QAI nos Hospitais, um compromisso sério

Por 27 Maio, 2017Artigos
Ver # Revista Edifícios e Energia 111 | Maio/Junho, 2017

 

As análises à Qualidade do Ar Interior (QAI) e por consequência alguns indicadores da Contaminação Hospitalar foram retirados,  e mal, por fundamentalismo exacerbado e doentio dos que a introduziram no sistema de certificação energética nacional e lobby de interesses politico ou económicos de outros que não perceberam que estavam a dar tiros nos seus próprios interesses, pois perderam um esquema de controlo frequente, eficiente e pragmático.

Ora por falta de bom senso na aplicação (QAI) da anterior legislação (DL 79/2006), ora por interesse por parte dos gestores hospitalares, em apenas obter fundos financeiros, a QAI, criou dificuldades na emissão de Certificados Energéticos (CE´s).

Dizem os gurus da gestão que o que não se controla é ingovernável. É assim que nascem uma serie de contaminações que poderiam ser evitadas.

Conforme descrito e bem no numero anterior desta publicação: “…  Para que as condições do ambiente interior dum espaço tenham a qualidade adequada, quer seja a QAI, quer seja a temperatura ou a pressão relativa aos espaços adjacentes é necessário que que os sistemas de AVAC tenham sido bem concebidos, instalados comissionados e sejam corretamente mantidos.”

O pessoal hospitalar e as equipas de manutenção e limpeza deverão ter formação continuada em procedimentos adequados e haver ações de controlo exigentes com regularidade. Essas ações até ao momento legisladas pela ACSS, são apenas para quem concebe instalações, descurando de certa forma o funcionamento” correto” da instalação ao nível hospitalar.

A precaridade contratual dos funcionários das referidas equipas também contribuem para uma certa degradação dos procedimentos.

Pensamos no entanto que os modelos e os paradigmas Utilizados estão ultrapassados, assim como as regras da ACSS e será necessário uma mudança disruptiva ao nível dos projetos, ao nível das ações de controlo das operações de manutenção e ao nível dos procedimentos adotados para escolha das equipas. Olha-se ao nível de projeto de instalações hospitalares, e observa-se uma necessidade abrangente de espaços para equipamentos técnicos que mais tarde têm de ser “negociadas” com os responsáveis do edifício. Neste nível um projetista, dá conta de responsabilizar-se por desajustes no modelo técnico, que poderão comprometer um adequado funcionamento.  Mais tarde enquanto funcionamento, a manutenção preventiva, além de na grande maioria das vezes não se levar de forma séria, torna-se apenas corretiva e curativa, conduzindo a despesas superiores ao ciclo de vida dos equipamentos. Só com a infeliz propagação de contaminantes, culminando nas infeções provenientes do interior de uma instalação é que se manifestam preocupações para com a eficácia de controlo dos sistemas técnicos. A contaminação hospitalar “pontual” torna-se preocupante com o surgimento de casos de internamento por neglicência, mortes ou notícias nos medias sociais. A falta de compromisso por parte dos promotores, como o delegar responsabilidades em técnicos de manutenção (TIM), sem formação e conhecimento suficientes sobre as instalações e muitas vezes com contrato de trabalho precário, tornam difíceis um controlo adequado e resolução de contaminantes que proliferam em instalações hospitalares. O abandono da QAI (existente perante apenas uma fiscalização), bem como o colocar a responsabilidade em técnicos (TIM´s) de instalações especiais, como hospitais, em pessoas sem formação académica em energia térmica e elétrica conduzem a uma série de problemas sem resolução adequada…muitas vezes solucionada sob o lema português em “arranjos” imediatos sob a eminência de mitigação de contaminantes por desconhecimento de causa!

Casos de Legionella não são raros infelizmente, embora muitos deles não venham ao conhecimento público, porque não morre ninguém.

Casos de propagação de contaminantes em instalações hospitalares ocorrem com frequência! Uma QAI esquecida, mas que deveria de voltar a ser discutida, com abrangência e diferenciada nomeadamente em instalações hospitalares, é uma grande necessidade!

O Sistema nacional de certificação energética precisa de ser saudado pela Europa, com compromisso sério na edificação e na salubridade do ar ambiente, onde projetos, instalação, comissionamento, manutenção e funcionamento salvaguardem a saúde dos ocupantes.

Não se pode esperar que a vida das pessoas seja colocada em perigo e surgir na imprensa para alterar a atual situação legislativa, é necessário ação e compromisso sério com o edificado português!

  • Coautoria com Fernando Pinto da Silva, PQ nº 2068