Manutenção 4.0, Desafios ou estratégia de inovação?

Por 27 Setembro, 2017Artigos
Ver # Revista Edifícios e Energia 113 | Setembro/Outubro, 2017

 

Também neste Tema poderemos repetir o dilema da revista anterior para o AVAC: Manutenção 4.0, desafios ou estratégia de Inovação?

Tal como escrevemos na ultima revista para o sector de AVAC, os sistemas inteligentes deverão ter capacidade e autonomia para agendar trabalhos de manutenção preventiva e corretivas prever falhas nos processos e de se adaptarem aos requisitos e mudanças não planejadas.

A manutenção em Portugal tem estado longe de ser um novo negócio. Falta chegar a inteligência ao longo de toda a cadeia de valor com boas práticas.
Infelizmente as práticas continuam velhas e as questões também são velhas resultantes de contratação a baixo preço sem objetivos claramente definidos e controlados, com o aviltamento dos preços que depauperaram o negócio com grande impacto no interesse publico e no desempenho dos sistemas técnicos.
Infelizmente mais uma vez a maioria das empresas não têm tido possibilidade de estar à altura da evolução deste grande potencial de negócio. Talvez por falta de recursos ou como resultado da descapitalização e da precariedade em que se encontram muitas das empresas do sector.
Apesar desta situação muitas das empresas do sector continuam a sobreviver recorrendo a práticas pouco adequadas de arranjos imediatos com substituição de peças e pequenos trabalhos de limpeza.
Em 2008 os regulamentos do sistema de certificação energética, designadamente o D.L. 79/2006 obrigava à existência de técnicos responsáveis pelo funcionamento dos sistemas de climatização, profissionais isentos preparados técnica e cientificamente e que de forma isenta, desinteressada e obrigatória orientavam as organizações para planos de manutenção preventiva e corretiva. O plano de manutenção deveria ser elaborado e mantido permanentemente atualizado sob a responsabilidade destes técnicos que deveriam ter formação em engenharia.
Adicionalmente existia também um controlo e acompanhamento obrigatório pelos Peritos Qualificados do Sistema de Certificação Energética (SCE) da qualidade do ar e da qualidade das redes de águas quentes sanitárias.
Infelizmente os organismos governamentais do sector não souberam estar à altura dos processos regulamentares e cometeram excessos, erros e interpretações levianas que deram origem a alguma contestação que por sua vez minaram o sistema de controlo da instalação e manutenção de edifícios e sistemas técnicos.
Face a esta situação e devido à pressão dos operadores económicos toda esta evolução deu um passo no sentido contrário e a partir de 2013 a legislação do SCE colocou a responsabilidade de ações de coordenação e execução das atividades de planeamento, verificação, gestão da utilização de energia e manutenção em técnicos cuja exigência de habilitações e capacidades é muito baixa e inadequada para os atos acima referidos.
Assim, avançou-se com o rumo ditado pelos interesses mais imediatos dos diversos grupos económicos e gigantes do sector energético ou a reboque da Comunidade Europeia.
Saliente-se que a exigência regulamentar da existência dum TIM para instalações com potencia térmica instalada superior a 25 kW, é ainda hoje um forte obstáculo para o exercício da função do Perito Qualificado que muitas vezes espera (desespera) pela indicação do TIM para terminar um Certificado Energético. Que o digam os Peritos Qualificados que foram apanhados nas teias da Parque escolar que ainda hoje, passados anos, ainda esperam para concluir os CE das Escolas porque o estado não tem dinheiro para contratar técnicos de manutenção. E por esta razão a Parque Escolar recusa-se a pagar cerca de 4 % do valor contratual do projeto das especialidades às entidades responsáveis pelo seu fornecimento.
Mais uma vez organismos sob a tutela do Estado além de não cumprirem a lei aproveitam se e não pagam o que devem. Cremos não haver hoje nenhuma Escola Pública com Certificado energético válido.
Monitorizar e assegurar operações de manutenção adequados nos sistemas técnicos dos edifícios obrigam a programas adequados de manutenção credíveis, pessoas e organizações responsáveis devidamente qualificadas e habilitadas nestas matérias.

Também os donos de obra e os operadores do imobiliário em geral deveriam repensar as politicas de contratação a baixo preço e controlar de forma mais eficaz os programas de manutenção recorrendo a técnicos adequadamente habilitados.

Como dissemos anteriormente colocar a responsabilidade das ações de manutenção em técnicos não isentos e menos preparados de instalações especiais, sem formação especifica conduzem normalmente a uma série de problemas sem resolução adequada muitas vezes solucionadas sob o lema do “desenrascanço” com “arranjos” imediatos, e que tem sido a pratica do negócio de algumas empresas do sector.